Tem 24 anos, é neurofisiologista e mestranda da ESTSP. Ana Luísa Pereira é a primeira mulher presidente da FAP e, em entrevista ao Canal Superior, mostrou-se motivada para dar continuidade ao trabalho das direções anteriores.
Tomou posse, nesta segunda-feira, a primeira presidente da história da Federação Académica do Porto, Ana Luísa Pereira. A mestranda em Gestão de Qualidade em Unidades de Saúde na Escola Superior de Tecnologia da Saúde do Porto dirigirá uma casa que já conhece, uma vez que foi tesoureira da direção anterior, comandada por Daniel Freitas.
Ainda antes da cerimónia de tomada de posse, Ana Luísa Pereira concedeu uma entrevista ao Canal Superior. Conhece melhor a nova presidente da FAP e quais os seus planos a curto e longo prazo para o órgão que representa a maior academia do país.
Quais são as medidas imediatas que a nova direção da FAP vai tomar?
Elaboraremos em direção a proposta de Plano de Atividades e Orçamento, que terá de ser aprovada pela Assembleia Geral no início de janeiro. Ao elaborar esse documento queremos pensar estrategicamente a nossa intervenção, para maximizarmos os resultados que poderemos conseguir.
De seguida, começarei uma ronda de reuniões com grupos estudantis da Academia, construindo o trabalho de proximidade que queremos potenciar, afirmando a FAP como motor desta academia irreverente.
Como irá a FAP colaborar com as demais academias nacionais?
Logo nesta semana em que tomamos posse, reúne-se o movimento associativo nacional, em encontro nacional, em Coimbra. Aí quero, com as demais academias, discutir os problemas e procurar soluções para a vida concreta dos estudantes no dia-a-dia; considero que nos dias de hoje o que mais pode ameaçar a relevância da representação estudantil são as discussões estéreis para a vida dos estudantes: o movimento tem de estar unido em torno das questões que afetam os estudantes.
Qual a posição da FAP em relação ao aumento do prato social nas instituições de Ensino Superior?
Este aumento no valor do preço da refeição nas cantinas é a consequência de um problema que a FAP já tem denunciado: a indexação do preço da refeição ao salário mínimo. A FAP defende diversamente que esse preço deve estar indexado ao IAS (Indexante de Apoios Sociais): se a regra fosse a que defendemos esse aumento não ocorreria.
E em relação ao congelamento das propinas, proposto no Orçamento de Estado de 2017?
Infelizmente, o Orçamento de Estado para 2017 não previu o congelamento das propinas para todos os estudantes do Ensino Superior público, mas apenas para um terço das instituições. Pessoalmente, entendo que se deve ir mais longe e congelar o valor das propinas para todos e não só para alguns. Sobre as propinas, aliás, acho que é imperativo fazer uma discussão séria sobre o que representam hoje na vida dos estudantes e das suas famílias, revendo o modelo de financiamento e a responsabilidade que cabe a cada interveniente - Estado, estudantes e instituições.
A FAP costuma participar ativamente em projetos de solidariedade. Quais as campanhas solidárias que a nova direção irá propor?
Faz parte da matriz identitária da FAP desenvolver esses projetos de solidariedade. Para além de manter os projetos que já desenvolvemos, como a FAP no Bairro, o Programa Aconchego ou as campanhas de beneficência, através do Somos Academia passamos a palavra aos estudantes para que eles próprios proponham novos projetos de solidariedade.
Acredita que após a eleição da primeira mulher para dirigente de uma federação académica, outras podem seguir-lhe o exemplo, no Porto e em outras cidades universitárias?
Já por várias vezes mulheres foram eleitas nas associações académicas. Acredito que tais eleições não dependem do género dos candidatos, mas das propostas e ideias com que se apresentam a votos.
É um ato histórico, a primeira mulher presidente da FAP. Encara este acontecimento como uma vitória do feminismo?
Considero que era a pessoa mais bem preparada para assumir o cargo e candidatei-me com essa convicção. Se a pessoa mais bem preparada não fosse eleita por ser mulher, aí sim, acho que o movimento associativo estudantil tinha um problema de igualdade de género; como tal não aconteceu, é um sinal de que as coisas estão no rumo certo.
Na sua opinião, as mulheres em Portugal ainda atravessam mais obstáculos do que os homens para conseguirem alcançar cargos de chefia?
Pessoalmente não tenho essa experiência. Admito que o meu percurso possa não ser a regra, mas espero que haja avanços que removam o género como critério para acesso a quaisquer cargos, incluindo os de chefia.
Numa outra situação, as presidenciais dos EUA, também havia uma mulher candidata em quem se depositava muita esperança, mas esta acabou derrotada por Donald Trump. Tem alguma opinião sobre o assunto?
Considero que o resultado das eleições presidenciais dos EUA é o produto de múltiplas variáveis. A questão de género não me parece ter sido uma das questões essenciais para o resultado a que assistimos - o que me deixa ainda mais intranquila em relação ao futuro dos EUA e da sua diplomacia no mundo.