TNSJ apresenta a sua segunda produção própria esta temporada. “Um grande ‘circo’ de paixões, desamores, identidade e sobrevivência.”
Lulu, a mulher que dá nome à mais recente criação de Nuno M Cardoso, é uma personagem amoral. O encenador quis retirar dela qualquer “ideia de bem e de mal”. O seu destino entrecruza-se com homens prepotentes, despóticos, que têm afinal o mesmo destino que ela: “a morte” e a “destruição”.
O desenrolar da(s) histórias(s) “explora vários temas burgueses e underground do século XX que, necessariamente, se refletem nos dias de hoje”. Aliás, segundo Nuno M Cardoso, chega a ser “brutal” a atualidade deste texto com mais de 100 anos.
Outra das caraterísticas diferenciadoras da peça é a utilização de três intérpretes diferentes para a mesma protagonista. As atrizes Vera Kolodzig e Catarina Gomes e a bailarina Sara Garcia encarnam Lulu em diferentes fases da sua vida-decadência, chegando a cruzar-se em palco.
O espetáculo que se estreia nesta quarta-feira, dia 13 de junho, no Teatro Carlos Alberto, no Porto, baseia-se na “monstruosa” obra de Frank Wedekind. A versão agora apresentada foi traduzida por Aires Graça e “recupera cinco dos setes atos de Espírito da Terra e de A Caixa de Pandora”.
Lulu encerra um ciclo de reflexão baseado na dramaturgia alemã, iniciado com Gretchen, de Goethe (2003), a que se seguiu Emilia Galotti, de Lessing (2009). Nuno M Cardoso tem vindo a refletir e a trabalhar “sobre a representação (difícil) da mulher”. Ao longo da peça, encontramos “uma personagem que se debate contra os dois tipos de inferioridade de que é vítima (a dependência económica e a condição de sexo fraco), enquanto se colocam em cena as contradições provocadas pela libertinagem cínica, a fachada puritana (patriarcal e burguesa) e a pulsão da morte”. Acima de tudo, Lulu é sobre “a liberdade”.
Fotografia de João Tuna
Fotografia de João Tuna