Estudo liderado pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa mostra que alguns animais das zonas entremarés ingerem pequenas fibras artificiais presentes nas roupas.
A investigação encontrou grandes quantidades de fibras artificiais no estuário do Tejo e em zonas costeiras da África Ocidental.
As fibras, “de dimensões reduzidas, são na sua maioria plásticos provenientes de têxteis sintéticos e são ingeridas tanto pelos bivalves e anelídeos que habitam o fundo do estuário, como pelas aves que se alimentam desses animais”.
Este trabalho foi iniciado em 2012, sob a liderança de Pedro M. Lourenço, investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, com Catarina Serra Gonçalves, então estudante do mestrado em Biologia da Conservação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. O objetivo era “avaliar a abundância de microplásticos no estuário do Tejo e em duas zonas costeiras da África Ocidental - o Banc d’Arguin na Mauritânia e o arquipélago dos Bijagós na Guiné-Bissau -, reconhecidas pela sua importância para a biodiversidade, em particular para os muitos milhares de aves limícolas que nelas passam o inverno”.
De entre as zonas estudadas, foi o estuário do Tejo que apresentou a maior abundância de microfibras, “com cerca de 75000 fibras/m2 na camada superficial do sedimento, sendo estas mais abundantes perto das grandes zonas urbanas”. Segundo os responsáveis, “todas as espécies de invertebrados e de aves analisadas ingerem microfibras, sendo que os invertebrados devem obtê-las diretamente do sedimento, enquanto as aves parecem obtê-las ao consumirem os invertebrados, revelando que estes poluentes se propagam nas cadeias alimentares”.
Ainda não se sabe com precisão quais as consequências da ingestão de microplásticos para os animais, no entanto, “alguns estudos laboratoriais mostraram que podem causar distúrbios fisiológicos, pelo que a sua ocorrência em altas densidades e a sua ingestão por diversas espécies é um problema potencialmente grave e que deverá ser monitorizado no futuro”. A equipa responsável pelo estudo sublinha uma informação adicional: as duas espécies de bivalve estudadas no Tejo, a lambujinha e o berbigão, são consumidas pelo ser humano, ou seja, as fibras encontradas podem estar a ser também ingeridas pelo homem.
Os resultados desta investigação estão disponíveis na plataforma Science Direct e serão publicados no próximo mês de dezembro no volume 231 da Environmental Pollution.
Fotografia: Teresa Catry DBA Ciências ULisboa
Fotografia: Teresa Catry DBA Ciências ULisboa